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Jijo Kiriakose (33) é da Índia e terminou o seu doutoramento em processamento de imagens. Agora trabalha como analista de investigação. Paralelamente à sua profissão, é também escritor, artista e gere um grupo de apoio LGBT.
Na Índia aceitam-se as amizades íntimas entre homens
Sabía que era diferente em termos de me sentir atraído por outros homens, desde que tinha cerca de dez ou onze anos. Nessa idade apercebi-me que era diferente, mas não sabia que sentir isso significava ser homossexual. Tenho a impressão de que desde de onde venho o ter uma amizade íntima com um homem é aceite. Tinha entre 20 e 30 anos quando comecei a a me aperceber de que para mim também se tratava de intimidade sexual.
Quando me tornei adolescente, os meus pais explicaram-me o que precisava saber sobre as prácticas românticas com o sexo oposto. Como não havia referênças a ter relações com pessoas do mesmo sexo, estava sempre a tentar de encontrar algo adequado para mim.
Disfrutei lendo a Bíblia
A minha família e eu éramos muito religiosos. Aos domingos, primeiro íamos à missa e pela tarde as crianças aprendíamos religião e falávamos sobre a Bíblia. Estava muito interessado nas atividades da escola Dominical, disfrutava ler a Bíblia e recitá-la. Em geral interessavam-me muito os ensinamentos religiosos.
Cada vez que tinha encontros físicos com rapazes, sentia que estava a fazer algo de mal. Estava convencido de que todas as minhas fantasias eram pecaminosas. Comecei a afastar-me do meu ambiente social e tornei-me muito solitário.
Quando deixei a minha cidade natal para estudar, tive a oportunidade de investigar e averiguar mais sobre a homossexualidade.
Saí do armário com a minha família na noite depois da minha ceremónia de noivado
Os meus pais já tinham concertado um matrimónio para mim, o qual se supunha que ia acontecer depois dos meus estudos. Portanto, já estava comprometido, mas depois de tudo, finalmente não me casei. Saí do armário com a minha família na noite depois da cerimónia de noivado. Enquanto que o meu pai ficou surpreendido, a minha mãe aceitou muito bem. Abandonei a casa dos meus pais e durante os meses seguintes não visitei a minha família. Deixá-los assim foi muito difícil para mim, porque estava acostumado a falar com eles com frequência. Costumávamos falar todos os dias. Levaram um ou dois anos para aceitar quem eu era, quando se aperceberam de que não ia mudar.
Não há problema em ser gay, contando que não permitas que todos o saibam
Os meus pais ainda não gostam do meu compromisso com a causa LGBT, porque tenho muita exposição devido aos meus escritos, que se publicam constantemente. Do seu ponto de vista, não há problema ser gay, mas não se sentem à vontade sabendo que todos saibam que o sou. Têm que enfrentar os seus vizinhos e o ambiente religioso fá-los por vezes passar maus momentoss. Creio que o meu pai ainda crê, ou pelo menos espera, que algum dia me converta em heterossexual.
É legal ser gay, mas não podes ter sexo gay legalmente
Na Índia, o sistema legal não trata as pessoas LGBT de maneira justa. Ainda que não seja problema ser gay, não podes ter sexo gay legalmente. Portanto, é uma decisão desafiante para as pessoas LGBT se são abertamente homossexuais ou não. Já que és abertamente gay tens que cuidar disso onde quer que vás. É em si uma forma de ativismo.
No meu estado, Kerala, apenas há pouco mais de 20 pessoas abertamente homossexuais e nós somos 30 milhões de pessoas. A maioria das pessoas que são abertamente homossexuais vivem fora do meu Estado, em cidades maiores como Mumbai, por exemplo. É mais fácil em grandes cidades como esta, porque ali a ninguém lhe importa realmente a vida do outro. É por isso que a maioria das pessoas, quando se tornam abertamente homossexuais, tendem a abandonar o meu Estado. Na minha cidade, quando conheces alguém, perguntarão o meu nome, a minha profissão, a minha idade e a seguinte pergunta seria o meu estado civil. Se não estás casado, generalmente na Índia tens que apresentar uma razão. É então decisão tua se estás fora do armário ou não.
Na Índia, as pessoas estão a começar a aceitar cada vez mais as pessoas transgénero. É porque a lei estatal está a começar a apoiar os direitos das pessoas transgénero. Há dois anos, o Tribunal Supremo da Índia aprovou uma lei a favor das pessoas transgénero. Estão a reconhecê-los como um terceiro género. A lei também estabelece que cada estado deve fazer algo para apoiar as pessoas transgénero. A discussão sobre a diversidade de género é bastante ativa no meu Estado.
Não há apoio da Igreja
No que diz respeito à discriminação, é um problema ser abertamente gay e cristão. O problema é que não tens nenhum apoio da Igreja, nem de nenhum grupo da igreja.
Temos um grupo de apoio associado com o Conselho Nacional de Igrejas na Índia. A junta nacional está a favor das pessoas LGBT. Fizeram algumas declarações num contexto local dizendo que ser gay não era problema. Agora, quando alguém enfrenta problemas, por exemplo, podem mostrar essas declarações às suas famílias. Sinto muita curiosidade pelo funcionamento da Rede Mundial de Católicos Arco-íris e de outras organizações. Realmente gostaria de trazer este conhecimento aos grupos católicos na Índia. É realmente desafiante, mas tenhamos esperança.