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John Justin Kashiha (32) da Tanzânia tem um título universitário, mas já perdeu cinco empregos por ser gay. A criminalização da sua sexualidade traz muitas dificuldades à sua vida: “Às vezes gostava que Deus me mostrasse como lidiar com o ser rejeitado e discriminado”.

“Sabes, podes ser quem és”

Tinha nove anos quando disse à minha mãe que sou gay. Ela pensou que estava com um demónio dentro de mim. Ela enviou-me para Igrejas, inclusivamente a médicos bruxos, curandeiros e até ao hospital. Estava a sofrer muito pela forma como a minha mãe reagia a esta situaçã0. Mas agora, posso entender como ela se sentia. Deve ser muito difícil compreender uma orientação sexual se não fazes parte dela. Continuamos a falar, ela continuou a escutar-me e, finalmente, disse-me: “Sabes, podes ser quem és”. Tudo o que necessitas é compreender o contexto em que estás a viver e, além do mais, respeitar-te a ti próprio para que outros também saibam como te respeitar. Mas recordar que: deves estudar muito e trabalhar duro para que ninguém possa fazer-te algum dano ”. Foi isto que fiz. Tenho um master em desenvolvimento comunitário e saúde pública e agora sou candidato a um doutoramento.

A sociedade é altamente homofóbica.

Mesmo para a minha mãe não foi fácil compreender: não há informação relacionada com ser gay ou lésbica na Tanzânia. A minha mãe não foi à escola o tempo suficiente para poder processar a informação da Internet. Então só tinha em mente os preconceitos de que tinha ouvido falar. Ela estava realmente a lutar muito para aceitar a minha sexualidade. Na Tanzânia, em geral, a sociedade é altamente homofóbica e altamente discriminatória. Tive sorte porque tive uma relação muito próxima com os meus pais, mas sei que há muitas outras pessoas LGBT que estão lutando muito mais para contar aos membros da família.

A criminalização conduz a uma maior taxa de VIH e ao suicídio

A lei na Tanzânia julga-nos oficialmente como criminosos. Ainda é ilegal ter relações sexuaiss com pessoas do mesmo sexo. Recentemente, muitos ativistas foram presos. À medida que passam os dias, a situação é cada vez mais difícil. Está a pôr-se pior. Coloca as pessoas em risco, não só em risco de VIH, mas também em termos de violações e, por vezes, de suicídio. As pessoas sofrem muitos traumas porque não têm ninguém com quem falar. São torturados, agredidos nas ruas, chantageados. E também são rejeitados pelos serviços públicos, por exemplo. É possível que se recuse a assistência médica no hospital porque dizem que “este não é um hospital para pessoas gays”. Obviamente, não há um hospital para pessoas Homossexuais, mas agora, algumas organizações tentam prestar cuidados médicos às pessoas Homossexuais devido a isso. Em qualquer momento e num espaço público, quando uma ou mais pessoas se apercebem que és gay, já estás exposto ao perigo. As pessoas são expulsas das suas casas. Tivemos 38 casos na nossa organização durante os últimos 8 meses em que pessoas foram expulsas dos seus lares e empregos. Expulsaram-me de 4 ou 5 empregos devido à minha sexualidade. Passei por muita discriminação nos lugares de trabalho. Fui preso recentemente por sete dias.

Deus sabia que eu seria gay

Tenho momentos em que pergunto a Deus: “Porquê eu? Podes dizer-me o segredo que está por detrás?”, porque é que estou a passar momentos muito difíceis enquanto outros não, só por aquilo que sou. Não quero queixar-me perguntando “Porquê eu”, prefiro que Deus me mostre o “porquê?” e o caminho. Como saio desta situação? Como posso aprender a lidar com os altos e baixos de ser rejeitado, discriminado e violado? Não escolhi ser assim. Foi Deus quem o escolheu. Ele conhecia-me antes de me ter criado. Sabia que me tornaria gay e que enfrentaria muitos desafios. Às vezes digo às pessoas: trata-se de perdoar, esquecer e seguir em frente. Há algumas perguntas para as quais nunca obterás a resposta.

A Igreja deve ser um lugar de paz

Há uma discriminação muito alta dos gays e lésbicas na Igreja. As Igrejas em África presumem que a Homossexualidade não existe. Temos um grande temor em abordar esta situação porque temos medo de perder a aceitação dos outros membros da Igreja. Mas quem são os membros da Igreja? E quem são os Homossexuais? Há muitos membros da Igreja que são Homossexuais. Creio que é o momento adequado de parar de fazer as coisas como o fizemos sempre e começar a pensar na inclusão e nas boas-vindas. A Igreja é um lugar pacífico e harmonioso onde não há necessidade de discriminar, de rejeitar, porque como cristãos este não é o nosso papel. O nosso papel é amar e acolher o outro. Condenando, rejeitando e julgando é como colocar a responsabilidade em Deus que nos criou precisamente para isso. Todos nós somos seres humanos e todos os seres humanos podemos cometer erros.

“Nunca me impedirão de ir à Igreja!”

Costumava ir à Igreja todas as semanas. Mas depois do sacerdote da minha Igreja se ter apercebido que sou gay, disse-me: “não te queremos ver mais aqui porque és um pecador”. Depois disto, não deixei de ir à Igreja. Cada vez que ia ali dizia ao sacerdote: “Deus sabe o que criou. Nunca me impedirás vir à Igreja”. Mas por fim deixei de ir, de qualquer forma. Senti que se continuava a ir a esta Igreja, criaria uma distância entre mim e o Deus em que creio. É melhor rezar em casa. Deus está em todo o lado e escuta a partir de qualquer lugar.

Eventualmente terão que nos aceitar.

Creio que haverá uma grande transformação no meu país, gostem ou não as pessoas. Isto vai acontecer. Então é melhor que deem um passo em frente e pensem de maneira diferente. Eventualmente terão que aceitar e incluir gays e lésbicas. Podem impor as leis mais duras, mas não podem impedir que as pessoas sejam o quem são.