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A Comité Central da Rede Global de Católicos Arco-íris (GNRC) declara: “A identidade de Género não é una tendência social ou um pecado contra Deus”

 

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4 de Agosto, 2016. A Rede Global de Católicos Arco-íris lamenta as recentes palavras do Papa Francisco relacionadas com a identidade de género e o seu ensino nas escolas. As pessoas Transgénero e Intersexo (TI), do mesmo modo que as pessoas Gays, Lésbicas e Bissexuais, não escolhem a sua identidade de género, mesmo assim o Papa sugere que os jovens não deveriam receber este tipo de ensinamentos nas escolas. A identidade de género descobre-se, não se escolhe. Se as escolas ensinam que a identidade de género é uma escolha, sem lugar a dúvida, o curriculum deveria ser mudado.

A GNRC rejeita, em especial, a falta de empatia nos comentários do Papa, quando menciona a sentença de Bento XVI no que diz respeito a que “Vivemos numa época de pecado contra Deus o Criador”, referindo-se a uma conversa prévia que partilharam sobre temas de género. Dita declaração, relacionada com as pessoas transgénero e intersexo, não expressa o amor de Deus para com aquelas pessoas, Católicas ou não, as quais são usual e constantemente questionadas pela sociedade, pela Igreja e pelas suas famílias, por ser quem são. Podendo mesmo reforçar a condenação e assédio a pessoas TI, mesmo que o Papa não tivesse, seguramente tais intenções.

Quando o Papa faz referência ao erróneo conceito de “Ideologia de Género”, cria confusão e mal entendidos dentro e fora da Igreja. O trabalho duro e os esforços a favor da inclusão na sociedade de pessoas TI, transgénero e intersexo, através de programas educativos nas escolas sobre identidade de género, não fazem parte de uma tendência pós-moderna ou de um lobby tendencioso que procura rever os ensinamentos tradicionais da Igreja ou romper o tecido social. A realidade TI faz parte da história da humanidade desde os seus inícios, como o evidenciam as manifestações artísticas, literárias e outras nas numerosas culturas e religiões à volta do mundo, sejam cristãs ou não, como por exemplo nas Américas, na Polinésia e no Sudeste Asiático. A grande diferença é que hoje a investigação e os resultados de sérios estudos em biologia, psicologia e psiquiatria, mostram claramente que a identidade de género de uma pessoa pode diferir do seu sexo biológico de nascimento.

Entendemos os grandes avanços e os sinais mostrados pelo Papa Francisco, no que diz respeito à visibilidade e acolhimento de Lésbicas, Gays e Bissexuais Católicos na Igreja. Lamentavelmente, os Católicos TI (Transgénero e Intersexo) e as suas famílias, não receberam o mesmo tratamento – apesar do recente encontro do Papa com uma pessoa transgénero de Espanha. Recordemos que o Papa encontrou uma linguagem muito mais moderada no que diz respeito a teorias de género na sua recente exortação apostólica “A Alegria do Amor” (Amoris Laetitia).

Considerar que as políticas educacionais inclusivas poderão fazer crer aos jovens “que qualquer um pode escolher o seu próprio sexo”, é uma leitura errónea dos resultados científicos e uma falsa interpretação do que as pessoas TI, especialmente os Católicos TI, procuram alcançar. O assédio, a depressão e o suicídio, especialmente este último, são tragicamente mais altos entre pessoas transgénero (40% mais alto comparado com outras pessoas da sua mesma faixa etária). Portanto, abordar este assunto nas escolas é um meio essencial para tentar proteger os mais jovens, especialmente vulneráveis. Mensagens como a recentemente publicada pelo Vaticano, não só contribuem para a dor e isolamento dos católicos TI, como também reforçam o preconceito e a discriminação em países ou regiões, onde a Igreja por vezes encorajou, ou testemunhou silenciosamente, a perseguição e criminalização de pessoas LGBTI e das suas famílias.

É com fervor que esperamos e rezamos para que a Igreja mostre maior compreensão e mais respeito para com as pessoas TI. Também desejamos expressar a nossa disposição para apoiar a Igreja em dito processo. De boa-fé partilharemos histórias de vida reais e testemunhos de transgéneros e intersexo Católicos e das suas famílias. Eles informar-nos-ão a sobre a sua fé, vidas, identidade, sofrimentos e esperanças, tudo no espírito da Exortação Apostólica do Papa.

A GNRC apreciou muito quando o Papa mencionou, durante a Jornada Mundial da Juventude, a situação dos pobres e imigrantes, dentro e fora da Igreja. No mesmo espírito, gostaríamos de recordar que a Igreja é A Casa de Todos e isto inclui os nossos irmãos e irmãs transgénero e intersexo na Fé. Estamos todos na busca de reconhecimento, da inclusão e da justiça na nossa Igreja. Percorremos o mesmo caminho no sentido de uma integração verdadeira entre a nossa Fé e a nossa orientação sexual e/ou identidade de género.

Comité Central da Rede Global de Católicos Arco-íris (GNRC).

Sítio Web: www.rainbowcatholics.org Mail:          rainbowcatholicsassembly@gmail.com

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A Rede Global de Católicos Arco-Íris (GNRC) é formada de organizações e indivíduos que trabalham pelo cuidado pastoral e pela justiça para com pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, e intersexuais (LGBTQI) e suas famílias. A rede trabalha pela inclusão, dignidade e igualdade desta comunidade na Igreja Católica Romana e a sociedade em geral. A GNRC foi fundada em outubro de 2016 na conferência de Roma, “Os Caminhos do Amor”, com 80 participantes de 30 países. À data a GNRC representa 25 grupos de católicos LGTBQI, as suas famílias e amigos de todos os continentes.